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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Entrevista a um velha guarda dos South Side Boys
Depois de uma conversa pela internet com um velha guarda da Alma Salgueirista, o mesmo colocou-me a hipótese de eu entrevistar velhas guardas de grupos como o dele, South Side e Panteras Negras. Ou seja grupos que têm história no movimento português, mas que nos últimos anos têm andado longe dos principais palcos. Aceitei a ideia e comecei a contactar as pessoas chegando à conclusão que destes 3 grupos, não fazia sentido entrevistar algum axadrezado, pois à relativamente pouco tempo um elementos deles foi entrevistado e além disso a rivalidade também já era um ponto contra.
Hoje coloco aqui a entrevista ao velha guarda dos South Side. Nos próximos dias colocarei a outra entrevista.
Acompanhas o teu clube enquanto membro dos South Side há muito tempo?
- Enquanto membro dos South Side, acompanho o clube desde o 1º jogo em 1994, contra o Braga.
Que recordações tens dos teus primeiros jogos na curva?
- Nos primeiros jogos éramos todos muito jovens e rebeldes, o movimento ultra estava na moda e o SC Farense vivia bons momentos, tendo mesmo obtido nesse ano o 5º lugar no campeonato. Fizemos grandes coreografias, tínhamos a bancada sempre cheia. Foram bons tempos.
Que características destacas no teu grupo?
- Perseverança e fidelidade.
Que recordações tens do espírito ultra dos anos 80/90?
- O espírito ultra nos anos 80 era muito experimental e próprio de cada grupo, nos 90 a moda alastrou-se e chegou a quase todo o lado. Quase todos os clubes da 1ª Divisão tinham a sua claque. As claques começam a ganhar força e chegou a haver reuniões nacionais com as principais claques do país. Até ao incidente com o very-light no Jamor em 1996, tínhamos liberdade de usar tudo e mais alguma coisa, depois disso tudo foi proibido e aparecem as primeiras leis relativas às claques. Acontecem os primeiros protestos a nível nacional exigindo melhores condições para os adeptos e começa a luta contra o futebol moderno. Beneficiando da evolução do movimento, aparecem as zines e mais tarde os sites e canais de IRC.
Qual o teu significado da palavra ultra?
- Ultra radicais na defesa e apoio do nosso clube.
Como tem sido a experiência nos escalões inferiores? Fala-nos um pouco de como têm sido estes últimos anos.
- Ao contrário do que se possa pensar, a experiência pelos escalões inferiores foi extremamente positiva. Enquanto nos distritais chegámos aos 250 membros inscritos, com uma média de 50 a 80 por jogo. É o futebol na sua mais pura essência, onde só o amor ao clube existe. Não há elite, é o jogo do povo. Deslocações a campos que nem sonhávamos existirem, onde a cerveja e o vinho frequentemente alegram o público.
Faro é uma cidade que está muito longe das restantes. Como eram os tempos em que várias vezes se tinham de deslocar até ao Norte?
- Nos primeiros anos era muito difícil irmos acima de Lisboa. Éramos quase todos estudantes e com poucas possibilidades tanto financeiras como logísticas de fazer tantos quilómetros num só dia. À medida que os anos foram passando essa foi uma questão que se ultrapassou completamente. Hoje o nosso objectivo é estarmos presentes em todos os jogos, incluindo Açores e Madeira. Não me recordo do último jogo em que a equipa não teve apoio.
Depois de tantos anos a percorrer o país para acompanhar o teu clube em algum momento pensaste em deixar esta vida de ultra?
- Jamais!
Com o passar do tempo nota-se que em muitos grupos a velha guarda vai desaparecendo, quais as razões que levam a essa situação? O teu grupo tem sido muito afectado por isso?
- Curiosamente, dentro dos SS o meu grupo é precisamente a Velha Guarda. Nos grupos em que isso acontece, há uma clara falta de indentidade dessas pessoas para com o clube e para com a sua cidade. Outros acham que já são demasiado adultos para fazerem ainda parte de uma claque. A clubite é também um problema que assola o nosso país e faz com que as pessoas se preocupem apenas com os 3 grandes e desistam dos clubes locais. Nos SS levamos à letra o lema “Defende o teu clube, honra a tua cidade”, e existem já muitos elementos acima dos 30 anos, alguns casados, com filhos, licenciados, douturados, e nada disso nos demove de estarmos todos os domingos na bancada, apoiando o nosso clube.
Quais os jogos que ao longo dos anos te “deram mais pica”? Os maiores rivais… e já agora também quais as amizades que construíram?
- Os jogos com “mais pica” foram tantos que seria quase impossível contabiliza-los aqui. Mais recentemente destaco a deslocação a Vila Real de Stº António na 1ª distrital onde levámos cerca de 300 elementos e o último jogo da época passada, em casa, onde estavam mais de 400 ultras na bancada em apoteose total, fazendo lembrar os velhos tempos da 1ª liga. O maior rival será sempre o Olhanense. As amizades foram muitas, com muitos grupos, mas nenhuma de cariz “oficial”.
Actualmente quais os grupos com mais valor em Portugal?
- Todos aqueles que acerrimamente defendem o clube da sua cidade, independentemente da divisão em que se encontram.
Tens algum grupo estrangeiro com o qual te identifiques ou tenhas uma admiração?
- Não gosto de nenhum grupo estrangeiro em específico, mas admiro o movimento ultra italiano no geral.
Que pensas do movimento casual?
- O movimento casual gira muito à volta da moda e da roupa de marca. É um pouco elitista a meu ver, mas valoriza as bancadas.
Acreditas que o Farense tem capacidade para regressar à 1ª Liga?
- A médio prazo, sim. Basta resolver o passivo, que pode acontecer a qualquer momento. O pior já passou.
Na tua opinião existe uma ligação entre os problemas do nosso país e os aspectos negativos que se vêm nas claques nacionais?
- Apenas quando a política interfere no futebol.
O que pensas dos jovens de hoje em dia? Que diferenças encontras entre a tua juventude e a actual? Achas que esta geração mais jovem vai conseguir melhorar o movimento em Portugal?
- Não sei se esta geração conseguirá melhorar o movimento, já ficava contente se ela o perpetuasse. Os jovens hoje em dia vivem numa era digital e de consumo, e precisam sair mais de casa, ir à bola com os amigos.
Para ti quais os grandes males que estragaram o futebol?
- A SportTV, o preço dos bilhetes, a interferência política nos clubes e a sobrevalorização (por parte da imprensa) dos 3 grandes.
Qual a tua opinião sobre o movimento em Guimarães?
- Acho que na defesa de um bem maior os 3 grupos deviam partilhar a mesma bancada e cantar a uma só voz, como se de um só grupo se tratasse, embora cada um tenha a sua mentalidade.
O que pensas destes espaços na internet? Blogues, fóruns… São necessários?
- Úteis sim, necessários não.
Desejas acrescentar algo mais? Deixar alguma mensagem para os ultras portugueses e visitantes do blogue?
- Defende o teu clube, honra a tua cidade!
Mais uma vez agradeço ao elemento da velha guarda dos South Side pela disponibilidade para responder a esta entrevista. Espero que tenham gostado desta nova faceta do blogue, as entrevistas. Não sou um jornalista, tenho raiva a quase todos, mas fiz o que pude.
Mantenham-se atentos pois nós próximos dias irei colocar a entrevista com o membro da Alma Salgueirista.